Álvaro Pereira em conversa sobre o Atelier do Rossio…

Álvaro Pereira em conversa sobre o Atelier do Rossio…

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Como e quando surgiu?

O Atelier do rossio surgiu em Outubro de 2012, de forma natural e na continuidade de alguns trabalhos que o coletivo já realizara muito na base de concursos de ideias nacionais e internacionais.
O Atelier do Rossio apresenta-se como um coletivo de 3 jovens, dois arquitetos e um engenheiro civil, com diferentes experiências profissionais.
A decisão foi natural e surge no seguimento do primeiro concurso ganho para a montagem de um stand de exposição da empresa Vidraria Central do Porto na Exponor, promovido pela ordem dos Arquitetos Secção Regional do Norte.
Rapidamente o gabinete define como estratégia uma abordagem multidisciplinar e aberta ao processo de criação e construção, apoiada nas relações de proximidade, com os diferentes intervenientes no processo de fazer arquitetura, design e engenharia.
Ao longo dos dois anos de actividade, destacam-se diferentes escalas de intervenção, desde a reabilitação de espaços interiores, passando pelo desenho de peças de mobiliário, desenho e estratégia de identidade gráfica e design e, mais recentemente, um hotel rural, uma casa mortuária, um edifício de exposição uma adega e vários edifícios industriais, mostrando um pouco esta versatilidade de desenho em diferentes tipologias de intervenção

Que motivação te fez abraçar este projeto?

Trabalhamos como um coletivo de pensamento e desenho, gostamos da ideia de que um projeto é sempre diferente e todos os intervenientes podem trazer algo positivo ao projeto. É prática do Ateliê fazer um acompanhamento exaustivo, e participativo ao longo de todo o processo desde a ideia inicial até ao acompanhamento da obra, isto é o que mais nos motiva é o processo contínuo de trabalho que nos realiza pessoal e profissionalmente. Isto permite-nos criar relações de proximidade e de confiança com os clientes só assim conseguimos ultrapassar a crise com soluções construtivas e estratégias de mercado responsáveis e reais.

Sei que não fazem só projectos de arquitectura… Fala-nos um pouco dos serviços que podemos encontrar no Atelier.

Pelas diferentes abordagens dadas, durante estes dois anos, o Ateliê, não têm uma área de serviços dita tradicional na área de arquitetura design e engenharia. Não temos um pacote de serviços estanque e fechado, muitas vezes através da prática do desenho realizamos coisas fora da área de formação, como seja desenhar e construir um berço para uma criança e logo percebemos que também o mobiliário é um dos serviços que o Atelier pode prestar, ou passando por coisas que não são arquitetura mas que tocam a disciplina e a complementam, como escrever artigos de opinião para os meios de comunicação, ou mesmo desenhar instalações efémeras.
Claro que prestamos os serviços ditos convencionais na área da arquitetura design e engenharia e temos tido mercado nessas áreas, mas não estamos apenas a trabalhar esse tipo de mercado porque a crise abanou as estruturas ditas convencionais e logo tivemos nos primeiros tempos de nos ajustar e sair do campo da construção para agarrar outras oportunidades e outros temas que o desenho tão bem sabe resolver. Diria em conclusão que o serviço que o Atelier presta é claramente o desenho inteligente no sentido em que o desenho primeiro no pensamento e depois no papel, ajuda a resolver inúmeros problemas transversais a todos os ramos de atividade e da sociedade em geral.

O que vos diferencia?

A qualidade, a responsabilidade, a forma como nos envolvemos no processo de trabalho, que é muito personalizado, resolvemos problemas de forma económica e criativa.
Mas acima de tudo o que nos diferencia é a postura permanente de querer questionar sempre tudo, por forma a encarar as soluções que nos parecem mais justas para diferentes áreas de trabalho isso acontece na arquitetura na engenharia e no design.

Qual a importância da arquitetura para a sociedade?

É sabido que a arquitetura é o meio mais evidente de expressão de um povo dito civilizado, é através dela que o homem consegue revelar a forma como se relaciona primeiro dentro do espaço que habita e depois com os outros homens, (a rua a cidade o território) a importância da arquitetura passa muito pela relação de conforto pela relação funcional e pela relação visual e estética com que o homem se rodeia quando pensa em construir a sua casa o seu espaço de trabalho a rua a cidade e o território.
O arquiteto Oscar Niemeyer disse e com muita razão que o desenho é tudo na vida e de facto é o desenho que nos permite criar melhores relações pessoais e sociais.

Apesar de bastante jovem, o Atelier tem participado em iniciativas, que muito têm contribuído para a envolvente social e cultural da região. Como é este processo?

Sim o Atelier tem construído oportunidades muito interessantes e tem contribuído para o desenvolvimento de atividades sociais e culturais na região.
Nesta área destacam.se claramente duas peças que criaram uma grande unidade e adesão das pessoas, isto interessamos muito, as relações de proximidade com os intervenientes mais uma vez foram decisivas para a materialização destas peças, e claro que não podemos dizer que não aprendemos muito com as pessoas envolvidas porque de facto é muito rico todo este processo de construção da ideia da materialização das relações pessoais que se criam para a vida.
A primeira peça que desenhamos foi a “entre aduelas” em 2013, tinha como objetivo divulgar a cultura do vinho do Dão, não só na forma como se expos pela primeira vez o vinho na rua, aberto todos os que o queriam provar, mas a peça também ela parte da ideia de representar todos os momentos da criação de vinho que é algo muito místico, as aduelas das barricas foram reutilizadas para construir uma pérgula de 14 metros apoiada nas extremidades pelos postes de amarração dos arames da vinha. Arquitetura, engenharia e design deram as mãos e construiu-se esta peça que tanto foi apreciada por produtores e provadores de vinho, ao ponto de ter sido parcialmente copiada e isso deixa-nos muito bem saber que podemos influenciar e provocar novas formas de fazer menos convencionais.
Esta peça que inicialmente era efémera passou a ser fortemente utilizada em todos os eventos de vinho que se tem realizado na cidade de Viseu.
A segunda peça foi o “Casulo”. Construída em 2014, nesta instalação social a matéria de construção foram as pessoas a certa altura do processo elas assumiram o protagonismo na sua construção, e isso realmente foi algo que nos marcou e ainda hoje esta peça embora efémera, nos encanta muito.
Foram construídos 10 mil origamis em papel vegetal, por 30 instituições sociais, foram pessoas que estão a margem da sociedade com graves problemas sociais psicológicos e motores, que construíram a peça e no dia lá estavam as caixas com os 10 mil corações perfeitos, duvido que pessoas normais tivessem feito melhor, num tão curto espaço de tempo e nas condições que todos conhecemos.
As instituições e as pessoas visitaram e peça e deixaram mensagens de carinho nos corações e isso nós não tínhamos planeado, isto só acontece quando as pessoas se identificam com a peça, acontece porque as pessoas sentiram que não podemos marginalizar os outros, que temos de considerar e valorizar porque de facto foram incríveis. Sentiram-se realizadas e felizes por terem construído esta instalação, que correu mundo e que ainda hoje está presente nas nossas memórias, esta é a capacidade imaterial que a arquitetura também pode produzir nas pessoas, esta peça será sempre lembrada pelo lado humano que criou entre todos.

Uma iniciativa bastante conhecida, são os Jardins Efémeros, em que este ano desenvolveram a peça central e vos deu uma projecção bastante interessante. Para além deste “bónus”, o que mais gostaram de fazer?

Os jardins efémeros como plataforma cultural marcou profundamente a cultura e a forma como nos relacionamos com a cidade de Viseu, a colaboração do Atelier com a organização do festival tem sido uma oportunidade muito salutar de pudermos trabalhar com e para a cidade. Embora se trate de uma instalação efémera o “casulo”, assumiu um caratér imaterial permanente na identidade das pessoas, e isso é muito positivo, o que mais nos deu prazer foi trabalhar com as pessoas que estão a margem da sociedade, de lhes dar uma projeção real, de as envolver, de as fazer acreditar que é possível, que elas são importantes, que podem fazer coisas importantes, neste processo de trabalho criaram-se relações de amizade profundas, e isso não tem preço e não acontece todos os dias.

Também têm feito muitos projectos de reabilitação e recuperação de espaços para turismo rural. É fácil, ir sempre de encontro às expectativas do que vos é pedido?

O turismo rural é hoje encarado de forma mais cuidada e as pessoas que se envolvem nestes projetos têm uma visão mais alargada do que é ter um empreendimento turístico, ligam-se ao território e valorizam-no, valorizando o seu próprio negocio, têm cuidado com os valores culturais e endógenos do território rural, apreciam e potenciam os produtores e agentes locais, a gastronomia a cultura e a vida rural, é uma parte importante que os novos investidores querem introduzir nos projetos, claro que a arquitetura tem de saber dar estas respostas de forma sensível.
A identidade dos sítios muitas vezes passa por identificar e valorizar as pré existências como forma de criar raízes e uma ligação aos sítios onde se inserem.
Existe uma visão muito mais cuidada e contemporânea de fazer turismo, estes agentes tem hoje uma visão global e muitas vezes começam primeiro por projetar a imagem fora do país, cativando outro tipo de público.

Como tem sido a evolução da empresa e que principais obstáculos têm encontrado?

A empresa não se recente com a crise porque a crise é anterior a criação do Atelier.
Aprendemos a evoluir de forma muito cuidada, assumimos os riscos de forma ponderada, mas nunca negamos os desafios, o importante é saber posicionar o nosso campo de ação, porque todos os projetos tem um capital próprio que é importante valorizar, temos projetos que nos dão mais projeção e outros que nos dão mais rentabilidade económica, encontrar o equilíbrio entre estes dois extremos é fundamental para crescer e criar a nossa identidade no mercado.
As dificuldades são enormes, porque a crise está ai e não a escondemos, mas o que mais nos preocupa é a falta de exigência do público em geral, que na maior parte das vezes apenas vê a arquitetura a curto prazo, e não assume que a qualidade do espaço pode diferenciar e potenciar um negócio, ou melhorar o conforto e o usufruto dos espaços.

O que vos falta fazer?

Diria que tudo! Todos as oportunidades que temos tido foram muito gratificantes, acabamos de ganhar um concurso internacional para construir um jardim sensorial em Ponte de Lima, a postura do Atelier é esta, falta sempre fazer alguma coisa, falta sempre investir o tempo e o desenho noutra área de negocio, temos vários caminhos para percorrer sem estar focados na habitação no comercio ou na industria, tudo é importante para nós se desenhado com habilidade.

Objetivos para 2015…

Continuar a projetar o Ateliê a nível nacional e internacional, como aconteceu com este prémio ganho recentemente, isto traz o reconhecimento que temos procurado construir.
Interessa-nos continuar a trabalhar de forma muito profissional e dedicada, porque acreditamos que é o trabalho sério e profissional a base para responder aos desafios de 2015.

Estar “in” é… (na área de negócio)

Estar in é estar “fora da caixa” a fazer coisas que muitas das vezes não estão relacionadas com a nossa zona de conforto.

Alvaro Pereira é Arquiteto freelancer, Presidente do NARV – Núcleo de Arquitectos da Região de Viseu, membro fundador do coletivo Atelier do Rossio, viseense…

Atelier do rossio arquitetura e design
atelierdorossio@gmail.com
atelierdorossio.com

por Rui Rodrigues dos Santos

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