Combinação perfeita

Combinação perfeita

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Quando cheguei a Viseu, com o Red Expressos que vinha de Porto, chovia. Eccome se pioveva! Quando atravessei toda a Avenida da Bélgica no escuro, por um segundo fiquei com medo de ter chegado em uma cidade fantasma. De verdade! Você já tentou percorrê-la em uma noite chuvosa de outono? É no mínimo perturbador.

Menos mal que as primeiras impressões são quase sempre enganadoras. Viseu é uma cidade antiga, old fashionable, com os seus antigos monumentos, mas que não perde de vista o mundo contemporâneo. Conto pra vocês a minha história, talvez possa ser entediante, mas é la mia storia e não tenho vontade de inventar nada.

Por muitos anos vivi em uma cidade italiana que sempre amei com todas as minhas forças, mas nos últimos tempos comecei entrar em crise. Já fazia algum tempo que eu pensava em fugir e de di andarmene dalla mia città. Quando eu tive a oportunidade de trabalhar como estagiário na península ibérica não pensei duas vezes em tomar um avião.

Como vivo Viseu? Io, italiano de 27 anos? A verdade é que quanto mais os dias passam, mais me dou conta da qualidade
de vida desses bairros e dessas ruas. O que mais me marcou desde que cheguei foi, sem dúvida, a gentileza das pessoas 42 e a atenção que sempre me dedicaram para que eu me sentisse em casa. Percebi isso, porque depois de três meses nunca encontrei ninguém que se chateasse comigo depois de repetir dez vezes uma frase que eu não entendi. No trabalho, na Studiobox/Mixlife, encontrei um ambiente de trabalho, que duvido – e digo isso com tristeza – se possa encontrar
na Itália. Calore é a primeira palavra que me vem em mente quando penso aos meus chefes e aos colegas de trabalho.

De noite, Viseu é silenciosa. A poucos passos da catedral, se chega a um dos bares noturnos mais casarecci que eu já vi. Por alguns minutos pensei que tivesse chegado diretamente na época de Cervantes e de Camões: uma taverna para viajantes perdidos na Idade Média. Os proprietários, marido e mulher, com antigas receitas de alquimia, misturam a violentíssima jeropiga (ótima bebida para esquentar-se nesses tempos de frio record) à picante salgados. Aliás, entendi qual é o segredo vital dessa nação! Em Portugal descobri a importância dos acompanhamentos perfeitos. Tento explicar-me melhor: a manhã é perfeita se o pequeno almoço é feito com um café acompanhado de pastel de nata quentinho; a bifana tem como acompanhamento obrigatório a Super Bock (ou Imperial); o bacalhau vai sempre com as batatas; em vez disso, os edifícios mais coloridos, fascinantes e atraentes são aqueles abandonados e decadentes.

Portugal, entendi em pouco tempo, vive dessas duas faces: uma a vanguarda, a outra extremamente ligada ao passado. Não é um cliché, é algo que se sente todos os dias. Em Porto, por exemplo, essa dualidade é evidente se compararmos os edifícios destruídos atrás da Avenida de Eiffel com as instalações arquitetônicas da Avenida da Boa Vista. Em Lisboa, as duas almas são tão diferentes: de uma parte o Parque das Nações, do outro a Alfama!

Posso intuir as razões do rosto abandonado de Portugal. E’ una storia già vista também na Itália (mesmo que em proporções menores): bairros históricos abandonados depois que os inquilinos morreram e os herdeiros não puderam reformar as casas. Crisi é a palavra-chave. Assim como posso imaginar a quantidade de cidadãos que se transferem para bairros residenciais construídos do zero, com todo o conforto contemporâneo.

Banalidades à parte, para um italiano, Portugal oferece, involuntariamente, a oportunidade de viver a Europa perdida. Tem alguma coisa com cheiro de Pessoa e de Saramago nas ruas lusitanas, mas tem alguma coisa de continental, como se nas ruas das grandes cidades, estivesse ainda vivo um mapa da mitologia literária europeia. Passeando por Lisboa ou por Coimbra, como em Porto ou em Viseo, me lembro das palavras de um italiano, Italo Calvino, que em Le città Invisibili escreveu sobre Zaira: “Di quest’onda che rifluisce dai ricordi la città s’imbeve come una spugna e si dilata. Una descrizione di Zaira quale è oggi dovrebbe contenere tutto il passato di Zaira. Ma la città non dice il suo passato, lo contiene come le linee d’una mano, scritto negli spigoli delle vie, nelle griglie delle finestre, negli scorrimano delle scale, nelle antenne dei parafulmini, nelle aste delle bandiere, ogni segmento rigato a sua volta di graffi, seghettature, intagli, svirgole.”

por Diego de Angelis

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