O Caos, a Borboleta e a Avalanche

O Caos, a Borboleta e a Avalanche

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A Teoria do Caos trata sistemas complexos e dinâmicos que apresentam uma sensibilidade especial a que, simplificando, chamamos de “sensibilidade às condições iniciais”.
O ponto basilar da Teoria do Caos assenta no conceito de que comportamentos aleatórios também são governados por leis cuja formulação origina essencialmente dois resultados possíveis após a entrada de variáveis: um resultado ordenado dentro das margens estatísticas de erros previsíveis (como por exemplo a gausseana que prevê o numero de cartas pretas ou vermelhas) ou um resultado ordenado cuja resultante futura é caótica ( como pode acontecer na formação de uma núvem).
O facto de uma pequena alteração das condições iniciais de um problema poder provocar uma catastrófica diferença no resultado final foi apelidado de Efeito Borboleta – “Uma borboleta bate as asas no Porto e origina uma tempestade em Hanoi” .
A nossa vida está repleta de efeitos Borboleta e cada decisão que tomamos consciente ou inconscientemente pode efectivamente originar tempestades hoje, amanhã ou daqu por uns anos valentes na nossa vida, na sociedade , no planeta, no universo.
Na realidade, a comprovação do fenómeno Borboleta apenas é possível quando conseguimos replicar as condições iniciais de uma experiência isolando uma variável de todas as outras, ou seja, repetir a experiência com as mesmíssimas variáveis mas sem o batimento das asas.

Problema: na nossa vida, não podemos repetir experiências, porque no momento em que vivemos algo, tomamos alguma decisão, ou obtemos um qualquer resultado…afectamos de tal forma o sistema pela nossa interacção com o meio, que torna impossível repetir a experiência voltando tudo para trás como se a experiência não tivesse acontecido. No laboratórrio é possível isolar o factor tempo e voltar a experiência para trás…na nossa vida, não! É aqui que entram os fractais, é aqui que entra entra o gato de Schrodinger…

Portanto a nossa vida é mesmo feita de fenómenos borboleta em catadupla, que por sua vez é regida pela teoria do Caos, que por sua vez define as acções e consequências cujo resultado cai na probabilidade prevista de erro no final, ou cai no fenómeno caótico de um resultado absolutamente imprevísivel…aliás, previsível na medida em que a imprevisibilidade foi prevista pela própria Teoria do Caos. A Matemática tem isto de belo; dá um valor exacto para aquilo que conseguimos prever e um valor exacto para tudo aquilo que não conseguimos prever. Daí que um dos primeiros passos da Gestão passe por quantificarmos: “O que sabemos, o que não sabemos e o que não sabemos que não sabemos”

Trocando em Miúdos:
É absolutamente possível prever qual a probabilidade que temos em encontrar um emprego caso tenhamos um diploma.
Mais ainda, é possível calcular a probabilidade de sermos mais bem remunerados se o nosso Diploma for da Universidade A, ou da Universidade B; mas não é possível prever à nascença se querermos ser Engenheiros ou Médicos. O que é possível prever é que existe uma probabilidade de não existir qualquer probabilidade de sermos Nadador Profissional no caso de, por exemplo, sofrermos um determinado trauma com água que altere as condições iniciais
– Efeito Broboleta.

Somos permanentemente atacados pelo efeito Borboleta ainda que as nossas ligações neurais estejam formatadas para encontrar uma lógica intrínseca entre causa e consequência. Por vezes não conhecemos as causas e por vezes não antecipamos consequências. Por vezes até temos consequências por causas que não são as causas que pensamos serem as originárias.
Este texto está fácil hoje…Mas o tema que eu escolhi para este artigo não é Teoria de Caos nem o fenómeno Borboleta, até porque já não é a primeira vez que escrevo sobre a analogia da Teorria do Caos e o quotidiano Humano. O tema de hoje é um tema sobre o qual nunca escrevi mas que também vivemos no dia a dia e que também se encaixa na criticalidade dos sistemas: Fenómeno Avalanche.

Acho que este fenómeno todos conhecem, certo? É do senso comum que se trata de um fenómeno caótico….mas na realidade não o é. É possível prever a formação de uma avalanche, aliás, é mesmo um dos fenómenos mais bem estudados na Física, Matemática e Electrónica. Mais ainda, toda a tecnologia moderna assenta neste fenómeno com o surgimento do Díodo de Zener cujo princípio de funcionamento advém de fenómenos de avalanche de electrões que definem o estado on-of da corrente eléctrica que o atravessa.

Se adicionarmos lenta e uniformemente um grão de areia de cada vez sobre uma superfície plana, estes começam a amontoar-se criando um declive suave enguanto o monte de areia sobe. À medida que se acrescentam os grãos e o declive fica demasiado íngreme, alguns grãos deslizam causando pequenas avalanches. Se continuarmos a adicionar areia, o declive aumenta gradualmente assim como o tamanho médio das avalanches.
Até aqui é perfeitamente “formulável” e previsívisível a dimensão e o momento de cada avalanche.

O declive médio do monte de areia pára de aumentar quando este atinge o ângulo de repouso em que o adicionar de um grão pode originar uma avalanche catastrófica (não prevísiveis em dimensão) passando ao estado supercrítico. No final desta avalanche, o monte estará novamente num estado subcrítico ou…digamos…estável. Ou seja, o mesmo monte de areia não sofre duas avalanches seguidas sem que sejam acrescentados grãos suficientes após a primeira, uma vez que após cada avalanche o monte de areia encontra novamente a estabilidade.
É incrível a aplicabilidade do fenómeno de avalanche nas nossas vidas e em tudo o que nos rodeia. Passamos a vida a construir montes de areia e passamos a vida a ver aquele grão criar uma avalanche: O ultimo copo de shot que nos faz cair em avalanche, uma queda de uma bancada em Wembley, uma manifestação na Grécia, uma desilusão amorosa, um motim numa prisão, um pranto de lágrimas, um tremor de terra, um vulcão têm origem naquele ultimo “grão de areia”.

Penso mesmo que os sentimentos humanos estão formatados para viver em avalanche. Habituamo-nos a fazer montes de areia, contendo as emoções até que aquele ultimo grão nos faz sorrir incessantemente ou chorar copiosamente.

Está visto que a nossa mente e o nosso coração estão formatados para construir em altura e que cada grão é colocado em cima de todos os outros e não ao lado dos outros que já lá estão, e por isso arrumamos tudo dentro de nós como se estivéssemos a construir uma pirâmide de Gizé ou um quantum dot.
É talvez a necessidade Humana de levarmos tudo ao limite, os nossos montes ao limite… para depois descambar num desmoronamento em avalanche.

O segredo da vida pode passar por gerir a criticalidade, por gerir os declives e por limitar as avalanches (já que não podemos fugir delas) às suaves e previsíveis em vez de acrescentar grãos e mais grãos até que o ângulo de repouso seja alcançado e as avalanches se tornem catastróficas. É talvez colocar a racionalidade suficiente nas decisões que impossibilitem as nossas avalanches e as dos outros. É “não esticar demais a corda”, é “não pisar demais o risco”, é não “encher demasiado o saco”. No fundo sabemos o que provoca as avalanches, mas preferimos vivê-las. Algo dentro de nós parece ordenar-nos em permanência a colocar mais um grãozinho que não vai fazer diferença no nosso monte…e no monte dos outros.

O bom do fenómeno de Avalanche é o facto de não haver duas seguidas, o facto de após uma avalanche podermos gozar da estabilidade que necessitamos para reconhecer a nova forma, o novo declive em que o nosso monte de areia se estabilizou, e ganhar know how e forças para a próxima. Depois, é fazer o que gostamos de fazer: Tentar prever a nova avalanche, esquecendo-nos que a mesma vai provavelmente obedecer ao fenómeno Borboleta, que por sua vez se esconde na previsibilidade na teoria do Caos.

Podemos portanto complicar em explicações, mas eu gosto de lhe chamar Magia!

por Bernardo Mota Veiga

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