Projecto AMVC – Museu Etnográfico de Várzea de Calde

Projecto AMVC – Museu Etnográfico de Várzea de Calde

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PROGRAMA: Museu Etnográfico de Várzea de Calde
DONO DE OBRA: Câmara Municipal de Viseu
LOCAL: Várzea de Calde
PROJECTO: AMVC – Arquitectos Associados – 2004/2006
OBRA: 2006/2009

Sítio:
Uma casa de agricultores abastados situada no núcleo histórico da aldeia de Várzea de Calde [extremo norte do concelho de Viseu]. A casa insere-se num conjunto muito interessante, do qual fazem parte um lagar de vinho medieval, um forno, uma adega e um espaço exterior envolvente.

Programa | Conceito de intervenção:
A proposta apresentada para reconversão do espaço em Museu Etnográfico fundamenta-se na exigência de preservação e revitalização das mais valias de uma aldeia multissecular, combatendo a descaracterização urbanística, o despovoamento e o consequente desaparecimento da sua identidade cultural.
Tendo em conta os factores de identidade local, mais concretamente as características etnográficas, é visível uma tendência de ruralização da vida económica da aldeia, a qual se fez ao longo dos séculos e preservada num modus vivendi que se manteve quase inalterado até aos dias de hoje, fruto de um certo distanciamento dos centros urbanos. Estes aspectos são consolidados pelos costumes e pela memória colectiva, pretendendo-se agora ‘reunir’ esses elementos num espaço onde possam ser vistos.
A intenção de projecto vai de encontro à reestruturação destes espaços, permanecendo sempre que possível, as memórias que deles advêm.
O conceito proposto passa por uma revalorização patrimonial e cultural, concentrando no Museu Etnográfico (desenvolvido na casa principal) um espólio composto por utensílios agrícolas, bem como por ofícios tradicionais. A ideia baseia-se na recriação dos ambientes de vida e de trabalho da população, organizando o espaço de forma contextualizada, sempre com uma temática bem vincada.
Pretende-se recuperar o lagar medieval parcialmente em ruínas, o qual mantém as suas paredes de granito em considerável estado de conservação.
No espaço que antigamente foi adega, totalmente em ruínas, propõem-se uma construção nova mais contemporânea, consentânea com as pré-existências.
Relativamente ao espaço verde adjacente, este servirá de apoio aos diferentes edifícios, funcionando como elo unificador da proposta.

Reflexões
Nunca é muito correcto falar de nós próprios, mas quando nos pedem para falar do nosso trabalho é importante transmitir qual é o nosso modo de intervir. A forma apaixonada com que o fazemos pode por vezes ser confundida com falta de humildade, mas não é disso que se trata.
Amamos esta profissão, sentimo-nos plenamente realizados ao exercitá-la e o que mais nos fascina é a possibilidade de poder tomar opções. É uma responsabilidade muito grande; se não gostamos de determinado autor literário não compramos um livro seu, se uma certa melodia nos arrepia simplesmente não compramos o disco do seu compositor. Com a arquitectura é diferente; se temos o azar de um arquitecto, cuja obra não apreciamos, construir um edifício em frente à nossa casa, todos os dias de manhã abrimos a janela e temos de o encarar. Apesar do risco, gostamos de intervir.

No que diz respeito à recuperação arquitectónica, as pessoas têm por vezes uma preocupação extrema em conservar o antigo. Só o antigo é que é bom, como se o tempo fosse condição única de avaliação. Concordamos que uma grande maioria dessas pessoas não pode ser criticada, pois as suas opiniões são em função das referências que têm e se não existem referências não podem conhecer outras formas de intervenção.
Depois existe ainda a questão da autenticidade. Por vezes estamos perante um edifício que já sofreu tantas alterações e influências de tantos períodos que importa questionar dentro de que limites vamos intervir. Quanto a nós o importante é identificar a sua melhor fase. Acreditamos, tal como disse Viollet-Le-Duc, que a melhor fase pode ainda estar para vir. Outras vezes não faz sentido voltar a fazer as coisas de determinada maneira porque existem outros materiais ou técnicas construtivas melhores e que só a falta das mesmas no passado justificou que assim fosse.

Na nossa opinião, um edifício tem uma vida, é projectado de determinada maneira e para uma função específica. Todas essas circunstâncias podem alterar-se durante a sua “vida”. Por vezes temos de transformar o edifício seguindo as suas necessidades. O edifício tem de se adaptar à nova função.
Essas mudanças, nós acreditamos terem sempre de ser feitas de forma assumida e legível, não com um excessivo protagonismo mas utilizando uma linguagem arquitectónica contemporânea e novos materiais; esta nossa intervenção, ilustra bem essa vontade de marcar bem a intervenção quer a nível dos materiais quer a nível da linguagem arquitectónica.
Cada era tem o dever de deixar a sua marca, sem complexos, respeitando e aprendendo com o passado mas desejando o futuro.
Este é para nós o significado de recuperação.

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