Viseenses pelo Mundo…

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FICHA TÉCNICA
NOME Pedro Barbas PAÍS Brasil
CIDADE Belo Horizonte desde 2011

Como é que tudo começou? O que te fez fazer as malas e deixar Viseu?
A minha estadia em Viseu tem sofrido muitas inter- mitências nos últimos anos: depois de estudar em Coimbra, e sempre com regressos a Viseu pelo meio, já vivi em Braga, Maputo (Moçambique), Lisboa e agora Belo Horizonte (Brasil). A saída de Viseu deveu-se, circunstancialmente, a propostas profissionais desafiantes, mas acredito que o motivo de fundo foi a minha vontade em conhecer outras realidades e culturas de uma forma que as visitas turísticas não te permitem.

O que fazias em Portugal? E actualmente qual é a tua atividade profissional?
Antes de vir para BH, era director jurídico e assessor de administração numa empresa da área de engenharia em grandes edifícios, em Lisboa. Em BH, trabalho numa empresa de promoção imobiliária de projectos “green- field” que actua no âmbito de um programa do governo
federal de incentivo à habitação para famílias de menor rendimento. Aqui, para além da área júridica, estou responsável pelas áreas administrativa, contabilidade, recursos humanos e apoio a Administração na tomada de decisões negociais e estratégicas.

Como foi a adaptação? Quais foram as principais dificuldades ao chegar ao Brasil?
Na verdade até foi fácil, talvez por ter tido experiência semelhante anterior. Além disso, tal como anteriormente, não tive de enfrentar a barreira da língua que, acredito, é certamente um dos maiores obstáculos à plena integração de um expatriado. Depois, e porque se o mar nos separa, a história e a cultura nos unem, a nível social e cultural as diferenças, existentes naturalmente, não são gritantes. Senti-o também mais a nível profissional do que social.
Quanto às dificuldades, a principal que aqui encontrei foi a mesma com que me deparei em Moçambiquee certamente encontraria noutro qualquer País que se encontre a 10 horas de voo ou mais de distância de tua casa: a saudade, impossível de aliviar, daqueles que nos são mais próximos. Depois, o processo de socialização e de amizade, à medida que vais ficando mais velho, torna-se, por ti e pelos outros, cada vez mais lento e difícil. Mas nesse entretanto, livros, música e a estrada (e os locais onde ela me levou) foram companheiros que me ajudaram muito.

O que mais te surpreendeu no Brasil? O que mais gostas nesse País?
Não posso dizer que me tenha surpreendido, mas acho que o que mais fascinante é a sua diversidade. A variedade e riqueza naturais, culturais, étnicas, religiosas e gastronómicas são verdadeiramente impressionantes. Claro que quando nos apercebemos estar num País verdadeiramente continental, tudo deixa de ser tão impres- sionante, a não ser mesmo o seu tamanho (Por exemplo, o estado de Minas Gerais tem cerca de 582.000 km2; Portugal, 92.000). Tenho dificuldade em expressar preferências (Pantanal ou a praia de Ipanema? Pão de queijo ou moqueca? Samba ou Bossa Nova?)… qualquer indicação seria tão válida como outra.

A realidade onde estás actualmente é bem diferente de Viseu, quais são as principais diferenças?
Embora BH, em número de população, corresponda a umas 25 cidades como Viseu (ou até 50, se considerarmos a sua área metropolitana), chamam-na com muita propriedade de “grande fazendão”. Aqui, a simpatia, o respeito e o trato entre as pessoas não acompanhou (e ainda bem) o crescimento exponencial da cidade (BH só foi fundada em 1897).
Ainda assim, trata-se de uma metrópole, com todas as características boas e más típicas deste tipo de aglomerado populacional: pela negativa, como sempre, o trânsito e a criminalidade (esta mais vivida nos jornais do que na rua, devo dizê-lo). Pela positiva, o bom astral e a pujança cultural da cidade. Há constantes eventos culturais a acontecer na cidade, de música, cinema ou teatro, ao ar livre, em museus ou noutras casas e espaços das artes. Impulsionada por uma forte Lei do Mecenato, é certo, é a forte adesão da população a estes eventos que os sustenta e perpetua. E isso torna os teus fins de semana e finais de dia bem mais agradáveis.

Sendo o Brasil um País diversificado e tão diferente de Portugal, já tiveste oportunidade de conhecer outras cidades?
Claro! Um dos aliciantes destas experiências no exterior é precisamente a oportunidade que tens de visitar um pouco mais do País e região onde estamos. Aqui no Brasil, para além de várias bonitas cidades do estado de Minas, fortemente marcadas pela arquitectura barroca Por- tuguesa (ao longo da chamada “estrada Real”, caminhos das rotas do ouro e diamantes do tempo colonial) como Ouro Preto, Mariana, Tiradentes e Diamantina, estive no Rio de Janeiro (m-a-g-n-í-f-i-c-o!), Salvador da Baía, Florianópolis (Santa Catarina) e Cuiabá (Mato Grosso), além de uma rápida passagem por Curitiba (Paraná). Em trabalho visitei também algumas cidades do Estado de São Paulo e outras aqui em Minas. Mas para além de cidades, conheci outros locais muito bonitos, como praias da Baía (Trancoso e Morro de São Paulo) e Santa Catarina (Garopaba) e o Pantanal (Mato Grosso). Outro local tão interessante como incógnito “fora de portas” é o Centro Cultural de Inhotim, aqui bem perto de Belo Horizonte. Vale bem a pesquisa na “net” e, quem sabe um dia, a visita.

Porque não regressaste até agora a Portugal?
A missão que me trouxe até cá ainda não foi cumprida.
Mas acredito que num ano ou pouco mais isso possa acontecer. Depois, com motivação e um bom “trabalho de casa”, as oportunidades de regresso certamente surgirão (bem sei, sou um optimista).

Como é que é viver no Brasil? Fora da vida profissional, o que mais gostas de fazer nos tempos livres?
No Brasil que eu conheço, direi assim, a vida é tranquila, animada e leve, bem ao ritmo do “chopp”. Tenho pena que Belo Horizonte não tenha praia perto, sobretu- do quando estás num País Tropical! Mas, como dizem aqui, “se não tem mar, tem bar” (BH é a cidade com mais bares por habitante do País. E, simultaneamente, livrarias). Por isso, para além do inevitável “botecar” com amigos, gosto de passear pelos mercados da cidade, os seus centros culturais, de ir ao teatro e passear e correr na Lagoa da Pampulha (lagoa artificial que foi “tubo de ensaio” na parceria entre Juscelino Kubitschek – prefeito de BH antes de Presidente do Brasil – e Niemeyer, que mais tarde resultaria na construção de Brasília).

Pretendes voltar um dia?
Categoricamente, sim. A minha família, namorada e a maioria dos amigos de uma vida estão em Portugal e o meu lugar é perto deles. Apesar de nos últimos anos nada ter sido fácil em Portugal e ainda haver um longo caminho a percorrer, digo-o honestamente, sem flama patriótica ou emocional (alguma, talvez), que quanto mais conheço outros Países, mais tenho a certeza do País fantástico que temos. Sou português residente no Brasil e recordo-me hoje da frase de um cidadão bra- sileiro residente em Portugal numa crónica radiofónica que há uns anos dizia, “(…) que nada, vocês vivem no Paraíso e nem sabem!”. Tenho-lhe vindo a dar razão.

UM LIVRO: “1808”, Laurentino Gomes (Romance-reportagem);
UMA MÚSICA:“Metamorfose Ambulante”, Raul Seixas;
UM PRATO: Moqueca de peixe e camarão (com muito azeite dendê!)

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