Açores, um paraíso no imenso azul atlântico

Açores, um paraíso no imenso azul atlântico

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O Arquipélago dos Açores (nome de aves de rapina, confundidos por serem muito idênticas aos milhafres aí existentes desde a altura do seu descobrimento) situa-se em pleno Atlântico Norte, entre a América do Norte e a Europa, a 760 milhas marítimas
de Lisboa e a 2110 de Nova Iorque e é formado por três grupos de ilhas de origem vulcânica, o Grupo Oriental constituído pelas ilhas de Santa Maria e São Miguel, o Central que integra a Terceira, Graciosa, São Jorge, Pico e Faial e o Ocidental que engloba as ilhas das Flores e Corvo, apontadas por alguns investigadores como vestígios da lendária Atlântida.

Longe vai o ano em que pela primeira vez me decidi a viajar até aos Açores. Lembro como se fosse hoje toda a mistura de sensações que, ao olhar pela pequena janela daquele “pássaro de aço”, me invadiram num turbilhão inesperado. Ao ver aquelas pequenas ilhas senti que algo de mim ali pertencia, senti que aquelas pequenas porções de terra iriam ser parte da minha vida. Hoje, passadas quase duas décadas, ainda sinto que pouco conheço e muito “elas” ainda me têm para mostrar, ainda hoje sinto todo o mesmo turbilhão de sensações que me invadem cada vez que, ao olhar pela pequena janela, pequenas ilhas começam a aparecer no meio daquele imenso oceano azul. Escrever sobre as Ilhas Açorianas cada vez se tem tornado mais difícil, muito já se tem escrito nos últimos anos e, por mais que se continue a escrever, nada fará jus a toda uma beleza ímpar e indescritível, a todo um passado histórico e a toda uma cultura única. Tentarei, nesta minha primeira colaboração com a Valeu, descrever de uma maneira generalista esta Região Autónoma Portuguesas e guardarei para próximas colaborações alguns artigos mais específicos, principalmente na área do turismo ou em jeito de literatura de viagem.

Historicamente sabe-se já haver referências a nove ilhas em posições aproximadas das açorianas no oceano Atlântico, em livros e mapas cartográficos desde meados do século XIV. Não se sabe ao certo se foi Diogo de Silves, em 1427, ou Gonçalo Velho Cabral, em 1431, o primeiro navegador a avistar a primeira ilha a ser descoberta, Santa Maria, mas foi, decerto, com a epopeia marítima portuguesa, liderada pelo Infante D. Henrique, que os Açores entram definitivamente no mapa da Europa e sendo também com o Infante que o arquipélago começar a ser povoado.

Ao longo de séculos, os Açores e os Açorianos resistiram a erupções vulcânicas e terramotos, isolamento, invasões de piratas, guerras políticas e doenças. Dois grandes momentos marcam a sua história, a resistência ao domínio espanhol na crise da sucessão dinástica de 1580 e o apoio à causa liberal na guerra civil de 1828-1834. Já no século XX, os Açores atravessam e sobrevivem à epopeia baleeira, onde os homens e os seus pequenos botes baleeiros de madeira confrontavam no imenso mar azul os gigantes cachalotes.

Herman Melville, autor da famosa obra literária “Moby Dick”, realça as qualidades destes Homens do Mar. Ele afirma que «não poucos destes caçadores de baleias são originários dos Açores, onde as naus de Nantucket que se dirigem a mares distantes atracam, frequentemente para aumentar a tripulação com os corajosos camponeses destas costas rochosas. Não se sabe bem porquê, mas a verdade é que os ilhéus são os melhores caçadores de baleias».

A cultura da baleação açoriana foi interpretada criativamente por escritores e poetas, pintores e artesãos de scrimshaw (arte de trabalhar e pintar o dente e o osso de baleia). No século XX, vários realizadores estrangeiros filmaram os baleeiros açorianos executando uma técnica de caça que parecia desaparecida desde há 100 anos. Após 1986 a caça à Baleia foi definitivamente proibida no arquipélago mas continuou presente no quotidiano das gentes das ilhas e a relação secular entre o homem e a baleia não desapareceu com a interdição da caça, reinventou-se então uma nova atividade – a observação de cetáceos – e multiplicaram-se os polos culturais, científicos e museológicos.

Os Açores são atualmente um dos maiores santuários de baleias do mundo. Entre espécies residentes e migratórias, comuns ou raras, avistam-se mais de 20 tipos diferentes de cetáceos nas suas águas, o que corresponde a um terço do total de espécies existentes no Mundo. A observação de cetáceos é uma atividade que pode ser praticada nas águas de todo o arquipélago, sendo o Pico e do Faial as maiores referências nesta área, o que se explica pela forte tradição baleeira presente nestas duas ilhas. A facilidade de encontrar baleias e golfinhos nestas paragens foi acompanhada pelo desenvolvimento de operadores turísticos dinâmicos e respeitadores da vida animal.

Segundo a empresa Norberto Diver, os Açores oferecem um conjunto de excelentes condições naturais que permite a prática de mergulho nos Açores durante quase todo o ano, o difícil é escolher por onde começar. Existem dezenas de spots, adequados a diferentes tipos de mergulho. Zonas costeiras e baixas onde se contemplam magníficas grutas e arcadas submarinas. Restos de barcos naufragados, agora refúgio de lírios, meros e garoupas que saúdam os visitantes. Aguas oceânicas profundas, habitat de grupos de jamantas que planam na vertigem azul. Mergulhar com tubarões azuis (os Açores são o único spot de mergulho com tubarões na Europa) e, com alguma sorte, com tubarões martelos. Raras e misteriosas fumarolas subaquáticas. Os Açores têm sido considerados por vários órgãos de comunicação social internacional, como um dos pouco
locais paradisíacos do Oceano Atlântico. Os Açores são, sem dúvida, um dos melhores lugares para a prática do mergulho na Europa.

O arquipélago oferece, também, condições únicas para o desenvolvimento do turismo de natureza, graças ao seu património natural único. Esse património foi preservado e classificado e inclui a biodiversidade marinha, a flora e a fauna, cavidades vulcânicas e geopaisagens, parques e jardins botânicos, bem como outros recursos naturais exclusivos de cada ilha. Tudo isto, juntamente com as cidades e aldeias tradicionais dos Açores, apresentam oportunidades sem igual para o turismo de natureza.

A revista National Geographic Traveler elegeu o arquipélago dos Açores como as segundas melhores ilhas do mundo, atrás das ilhas Faroé, na Dinamarca. No artigo Best Rated Islands são avaliados 111 destinos por 522 peritos em turismo sustentável, sendo definidos como “sítio paradisíaco, com construções bem conservadas, natureza respeitada e habitantes sofisticados, cuja maioria já viveu fora”. Os caprichos do clima “impedem” a massificação de turistas seduzidos “pelas montanhas vulcânicas, pelos vales verdejantes das Flores ou pelas baías da Terceira”.

Os Açores têm procurado afirmar-se como ilhas de qualidade e excelência, onde aquilo que é genuíno e diferenciador marca a diferença e impõe-se num mundo cada vez mais Global, e contribui para a valorização do seu património natural e cultural, facilmente comprovado pelas iniciativas e galardões nacionais e internacionais, como a eleição da Lagoa das Sete Cidades e da Paisagem Vulcânica da Ilha do Pico como Maravilhas Naturais de Portugal. O Geoparque Açores, que em breve se candidata às redes europeia e global sob os auspícios da UNESCO, e representa o mais recente desafio nesta caminhada. A classificação pela UNESCO do centro histórico da cidade de Angra do Heroísmo e da Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico como Património Mundial da Humanidade são reconhecimentos de monta e uma atração turística. Na lista indicativa de candidaturas Portuguesas à UNESCO encontram-se mais dois sítios, o Algar do Carvão e a Furna do Enxofre. Tal como a classificação das ilhas Graciosa, Corvo e Flores como Reservas da Biosfera.

Mas muito mais há para ver e visitar nos Açores. Desde as suas caldeiras e lagoas, com destaque para as das Sete Cidades, Fogo e Furnas em São Miguel, aqui ainda pode encontrar a Poça da Veja, o Parque Terra Nostra, o Nordeste, as cascatas de água quente em plena floresta Açoriana, o Ilhéu de vila Franca. Mas a lista contínua, as fajãs e as encostas de São Jorge, o vulcão dos Capelinhos e a Marina da Horta, as grutas e algares do Pico, Graciosa e Terceira, as cascatas das Flores, as praias de areia branca de Santa Maria, a montanha do Pico, o Museu dos Baleeiros das Lajes do Pico, museus, solares, parques, o casario típico, um dos 10 cafés mais conhecidos no Mundo, o Peter Café Sport na Horta, são alguns dos exemplos do que os Açores têm para oferecer. Juntando a isto a cozinha tradicional Açoriana e os vinhos, com destaque para os vinhos do Pico, encontrados em várias adegas das casas reais europeias, tem razões mais que suficientes para visitar as ilhas que são, cada vez mais, um destino de eleição para o Turismo Europeu e já uma referência Mundial.

A presença Açoriana é forte no Continente Americano. O primeiro destino de emigração dos Açorianos foi o Brasil, no século XIII. Seguindo-se os Estados de São Paulo e Rio de Janeiro a partir do século XIX. Entre os Estados Brasileiros os que mais guardam a influência açoriana no Brasil são os de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A cultura açoriana ficou de tal maneira bem preservada que ainda se vê em certas localidades costumes e hábitos populares seculares, como o de contar estórias e lendas fantásticas, fazer rendas e bordados, cultivar ervas medicinais e comemorar as festas do mar e do Divino Espírito Santo.

Tanto a área litoral de Santa Catarina como a capital, Florianópolis, têm origem basicamente açoriana. Foram os 6.071 imigrantes do arquipélago que ao se juntaram aos 4.193 locais catarinenses (índios, paulistas, negros e espanhóis) no século XVIII deram origem aos desterrenses, atuais florianopolitanos.

A partir do século XIX a presença Açoriana também se passa a encontrar nos Estados Unidos da América, Bermudas e Hawaii. O último destino de emigração Açoriana foi o Canada, a partir de meados do século XX que, mesmo sendo um destino recente, o número de Açorianos que emigraram foi elevado.

Voltando ao arquipélago, e em jeito de despedida. Os Açores estão cada vez mais na moda como destino turístico, contudo é preciso ter o cuidado de não se deixar, não se permitir, uma massificação do turismo nas ilhas. É como destino turístico sustentável, mantendo a beleza natural e selvagem das suas paisagens que as ilhas são consideradas um Paraíso, e assim se devem manter. Será através da sua história, das suas tradições e da sua cultura, usando o Turismo Náutico, o Turismo Cultural, o Turismo de Natureza e Aventura, a Gastronomia e Vinhos e o Turismo de Raízes, que os Açores se poderão afirmar definitivamente como um Destino Turístico de eleição. Cabe, por isso, às entidades competentes o saber “planear”, “organizar”, “controlar” e “dirigir” o futuro turístico de cada uma das ilhas de uma maneira específica e de todo o arquipélago de uma maneira geral. Para mim continuarão a ser uma paragem obrigatória durante os meses de Verão e o meu destino turístico de eleição para a Vida. Local que, pela qualidade de vida que hoje em dia oferece aos seus habitantes, poderia ser perfeitamente a minha “casa”.

por Heitor Castel’Branco

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