Viseenses pelo mundo

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Ficha Técnica

Nome: Nuno Vaz / Idade: 41 anos / País: Noruega / Cidade: Kongsberg Desde 2009

UMA MÚSICA: “Ágætis Byrjun” De Sigur Rós

UM LIVRO: The Innovator’s Dilemma” De Clayton M. Christensen

UM PRATO: Sushi

COMO É QUE TUDO COMEÇOU? O QUE O FEZ FAZER AS MALAS E DEIXAR VISEU?

A saída de Viseu ocorreu em 1992 quando fui estudar para o Porto. Uma vez concluído o curso, continuei a residir e trabalhar na área metropolitana do Porto.

No início de 2008, ao constatar um abrandamento das expectativas relacionadas com a evolução da Construção Civil em Portugal, comecei a procurar alternativas no estrangeiro.

Alguns colegas meus já começavam a receber propostas de expatriação na Europa de Leste, Norte de África, Angola e Brasil. Como havia essa tendência das empresas Portuguesas para Leste e Sul, foquei a minha atenção para o Norte da Europa.

Participei em sessões de apresentação do IEFP/EURES, relacionadas com a Noruega e a Finlândia. Mais tarde, recebi propostas de trabalho para a Noruega e Finlândia, das quais optei por uma multinacional com representação na Noruega.

O QUE FAZIA AQUI EM PORTUGAL? E ATUALMENTE QUAL É A SUA ATIVIDADE PROFISSIONAL?

Em Portugal desenvolvia actividade como Engenheiro Civil, na área de projecto e fiscalização relacionados com Construção Civil. Em 2008, desempenhava funções de coordenador de projecto, com particular incidência no de domínio das estruturas.

Actualmente, continuo na mesma empresa que me levou para a Noruega, a FMC Technologies, que concebe, fabrica e vende sistemas de extracção submarina de petróleo e gás. Sou responsável pelo grupo de simulação e cálculo de estruturas e tubagem do departamento onde trabalho.

COMO FOI A ADAPTAÇÃO, QUAIS FORAM AS PRINCIPAIS DIFICULDADES AO CHEGAR À NORUEGA?

Foi misto entre deslumbramento e adversidade. Como chegámos em Janeiro, havia um certo encanto da paisagem e cidade nevadas, do género típico conto de Natal. Mas logo na semana seguinte, a temperatura desceu aos trinta graus negativos! Existiram uma série de rotinas que rapidamente passaram a fazer parte do quotidiano, como por exemplo, ter de limpar a neve da noite anterior para conseguir sair de casa; ou o hábito de deixar os sapatos à entrada de casa, principalmente quando se entra na casa dos outros. Dada a instabilidade do clima, e dos longos períodos de chuva/neve, não se deve estar à espera do bom tempo para vir passear para a rua. Os Noruegueses têm um ditado: “Não existe mau tempo, apenas má roupa.” Obviamente a língua é uma grande barreira, apenas atenuada graças ao facto que praticamente todos os Noruegueses serem fluentes em Inglês. Dada a latitude da região, a diminuição da duração e intensidade da luz do sol entre os meses de Novembro e Março provoca alterações no bioritmo. Nos primeiros anos, era normal sentir-me bastante cansado às 20h visto que já era de noite desde as 15h. Claro que durante o Verão é precisamente o oposto com o sol a pôr-se às 24h e a nascer às 3h.

Em termos de sociedade a adaptação foi bastante fácil visto que os Noruegueses são simpáticos e acolhedores, com uma cultura semelhante à nossa. A boa organização das instituições públicas permite uma rápida inclusão dos trabalhadores estrangeiros na sociedade. No geral, o bom funcionamento das infra-estruturas leva a que não se sinta muita diferença comparativamente ao que estamos habituados em Portugal.

O QUE MAIS O SURPREENDEU NA NORUEGA? O QUE MAIS GOSTA NESSE PAÍS?

O equilíbrio oferecido entre a vida profissional e vida familiar, e as condições (não só do ponto de vista de remuneração) que são oferecidas aos funcionários das empresas. Para um Norueguês, o trabalho é uma parte importante da vida, mas não a mais importante.

Existe um enorme respeito pelo meio ambiente – a Noruega é o país no mundo, per capita, com o maior número de carros eléctricos e híbridos, sendo o seu consumo de electricidade maioritariamente suportado por barragens. Tem paisagens deslumbrantes, entre florestas, montanhas, lagos e fiordes, sendo um hábito nacional os passeios em família, ou entre amigos, pela natureza.

A REALIDADE DE KONGSBERG É BEM DIFERENTE DE VISEU, QUAIS AS PRINCIPAIS DIFERENÇAS?

Antes de mais, convém realçar que apesar de ser uma cidade (a 80km de Oslo), Kongsberg tem 25 mil habitantes (1/4 da população de Viseu), mais parecendo uma vila em Portugal.

É uma cidade que gravita em torno do parque industrial, cuja génese ocorreu com a exploração das minas de prata no século 17 e, posteriormente com a transição para a indústria de defesa e armamento no início do século 19. Actualmente, no parque industrial estão estabelecidas várias multinacionais de áreas de negócio da defesa, aeroespacial, marítima, petróleo e automóvel.

As principais atracções da cidade centram-se no festival de jazz na primeira semana de Julho e no centro de ski que funciona durante o Inverno. O resto do tempo, dada a sua localização entre montes, florestas e lagos, os tempos livres são passados em actividades no exterior (jogging, btt, caminhadas, ski cross-country, etc.).

Dada a pacatez (por vezes demasiada) e tranquilidade, é uma cidade excelente para disfrutar do binómio trabalho-vida familiar, onde as crianças têm um ambiente de grande descontracção. É comum ver crianças de 6 anos a irem a pé sozinhas para a escola, ou na companhia de outros amigos vizinhos.

A NORUEGA É UM PAÍS ENORME. JÁ TEVE OPORTUNIDADE DE CONHECER OUTRAS CIDADES?

Sim, desde a capital Oslo passando por várias cidades na costa sul e oeste. Ainda por visitar está a antiga capital Trondheim e, mais a norte (dentro do círculo Árctico), Tromsø onde se pode vislumbrar as auroras boreais entre Dezembro e Março.

No geral, é um país com paisagens deslumbrantes que variam entre os fjordes, florestas, montanhas e glaciares. Com uma área aproximadamente igual à Alemanha e apenas 5 milhões de habitantes (aprox. 12km2/habitante) é normal circular-se bastantes quilómetros em estradas no interior sem avistar qualquer casa ou construção.

PORQUE NÃO REGRESSOU ATÉ AGORA A PORTUGAL?

Até ao momento, na área de negócio em que trabalho, existem muito poucas empresas a trabalhar em Portugal e, as que existem, não possuem o nível de conhecimento e tecnologia que existe na Noruega.

A realidade/dinâmica laboral e as condições oferecidas pelas empresas Portuguesas ainda estão muito aquém do que é praticado na Noruega. A oportunidade/diversidade de desenvolvimento de carreira, flexibilidade nos horários de trabalho, as ferramentas disponibilizadas, o equilíbrio da profissão com a vida familiar e a remuneração ajustada à função desempenhada, são aspectos que as empresas na Noruega usam para motivar e, em simultâneo, reter os recursos nas suas organizações.

LONGE DE VISEU HÁ TANTOS ANOS, DO QUE SENTE MAIS SAUDADES?

Da proximidade e familiaridade da comunidade onde se está inserido. Quando a comunidade onde estamos inseridos está repleta de amigos e caras conhecidas, torna a vivência numa cidade como Viseu numa experiência muito agradável.

Há pequenos hábitos e rotinas que tendemos a ignorar, mas cuja experiência de uma cultura diferente como a Norueguesa, é reveladora de como são parte de nós.

COMO É VIVER NA NORUEGA? FORA A VIDA PROFISSIONAL O QUE MAIS GOSTA DE FAZER NOS TEMPOS LIVRES?

O ritmo de vida é bastante tranquilo, existindo mais tempo para disfrutar os tempos livres. Havendo uma comunidade de famílias Portuguesas em Kongsberg, é inevitável que a actividade mais comum seja o convívio entre amigos durante o fim-de-semana. Dada a envolvente natural, as actividades de tempo livre são igualmente repartidas com btt, caminhadas e prática de ski/snowboard.

PRETENDE VOLTAR UM DIA?

Sim, julgo que a minha experiência internacional e o conhecimento acumulado nesta área poderão dar um contributo a empresas nacionais nas áreas da energia e metalomecânica.

A pergunta que se coloca é quando? Julgo que uma vez alcançados os objectivos pessoais, e tendo desafios em Portugal onde possa colocar as minhas competências ao serviço do País.

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