Museu Grão Vasco

Museu Grão Vasco

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No centro histórico de Viseu, o imponente edifício, contíguo à Catedral, acolhe as valiosas colecções e serviços do Museu Grão Vasco. A sua construção teve início em 1593, sendo na origem destinado a seminário.

É uma vasta construção em granito mandada edificar pelo Bispo D. Nuno de Noronha, prolongando-se as obras pela primeira metade do século XVII, com o Bispo D. Frei António de Sousa. Adossado parcialmente à Catedral, constitui com esta e com a Igreja da Misericórdia o ponto mais alto da cidade de Viseu, dominando o seu centro histórico. Embora se desconheça a autoria do projecto original, é provável que se deva a um arquitecto de origem castelhana, à semelhança do que sucedeu com o da actual fachada da Catedral, encomendado ao salamantino João Moreno.

A fundação do Museu ocorreu precisamente há 99 anos, a 16 de Março de 1916, e surge no contexto histórico das reformas republicanas.

O Decreto da criação do Museu Grão Vasco definia-lhe um acervo composto pelos valiosos quadros existentes na Sé de Viseu, pelo importante tesouro do Cabido da Sé, além de outros objectos de valor artístico ou histórico que pudessem ser cedidos e se tornasse conveniente incorporar no mesmo museu. Almeida Moreira, entusiasta da ideia de dotar a cidade de um museu, consegue, antes da sua nomeação efectiva como primeiro director e organizador do mesmo, abrir as portas ao público em 1914, na sala do cabido e seus anexos, junto do claustro superior da Sé.
Em 1931, após algumas obras de beneficiação no edifício da Paço dos Três Escalões, inauguram-se as primeiras salas de exposição permanente.
Ao contrário do que sucedia com o exterior, já que o edifício conserva genericamente uma marca identitária singular e poderosa, o interior, objecto de obras sucessivas de readaptação aos mais diversos serviços que ao longo dos séculos aí se foram instalando, ainda antes da ocupação do museu e chegando mesmo a coincidir com ele, encontrava-se profundamente degradado e descaracterizado.

MUSEU GRÃO VASCO | As colecções
Em nada surpreende que o pintor Vasco Fernandes, celebrizado no decurso dos séculos como o Grande Vasco, seja a referência maior, na designação e nos conteúdos deste Museu.
As pinturas que o artista fez ao longo das primeiras décadas do séc. XVI, precisamente para as diversas capelas da Catedral e para outras igrejas da região, dão-lhe, desde logo, um lugar de destaque no panorama da museologia portuguesa e do património artístico nacional.

O Museu Grão Vasco possui ainda diversas colecções, constituídas por obras de arte maioritariamente provenientes da Catedral e de igrejas da região. Aos objectos originalmente destinados a práticas litúrgicas (materializados na pintura, escultura, ourivesaria e marfins), acrescem peças de arqueologia, uma colecção importante de pintura portuguesa dos séculos XIX e XX, exemplares de faiança portuguesa, porcelana oriental e mobiliário.
Ao longo de quase 100 anos de existência, o Museu Grão Vasco reuniu um extraordinário
e diversificado acervo, abrangendo um arco cronológico, artístico e tecnológico muito vasto. Destaca-se o notável núcleo de pintura primitiva renascentista que ocupa o piso superior e que está dedicado, com particular relevo, à obra de Vasco Fernandes, bem como dos seus colaboradores e contemporâneos.

Neste núcleo podemos observar diversos tesouros nacionais, evidenciando-se o grande painel figurando São Pedro e a Adoração dos Magos, na qual, pela primeira vez, se representa na Europa a figura de um índio brasileiro. No piso intermédio expõem-se, por amostragem, colecções de arte românica e gótica, escultura religiosa dos séculos XVI a XVIII, arte dos “Descobrimentos” (África, Índia e Extremo Oriente, na qual se inclui um importante hostiário proveniente da Serra Leoa), artes decorativas (mobiliário, faiança, porcelanas e pratas), pintura barroca e neoclássica (destacando-se uma notável Natureza Morta representativa da arte peninsular do século XVII), retrato (com parte da obra do viseense José de Almeida Furtado – 1778-1831 – e uma obra do renomado pintor europeu Raimundo Madrazzo – 1841-1920), terminando na pintura naturalista e modernista portuguesa dos séculos XIX e XX, onde avultam importantes nomes como Tomazini, Alfredo Keil, Tomás da Anunciação, Silva Porto, Marques de Oliveira, João Vaz, Carlos Reis, Veloso Salgado, José Malhoa, Columbano Bordalo Pinheiro, Falcão Trigoso, Artur Loureiro, Joaquim Lopes, António Carneiro, entre outros.

Em reserva estão diversas colecções assinaláveis: pintura, escultura, numismática, têxteis, azulejaria, arqueologia e documentação histórica.
O Museu Grão Vasco possui nas suas colecções vinte e duas peças classificadas como “Bens Culturais Móveis de Interesse Nacional”, vulgarmente conhecidos como “Tesouros Nacionais”. O Museu assume um papel de relevância patrimonial incontornável, quando nos referimos à quantidade e qualidade de “bens de interesse nacional” integrantes das suas colecções o que nos dá bem conta da importância do Museu Grão Vasco, no contexto da afirmação da identidade cultural do nosso País.
Estas obras estão abrangidas por disposições legais especiais, que as protegem e classificam como bens raros e excepcionais. Para a sua classificação foram tidos em conta critérios como o carácter de autenticidade, originalidade, raridade e singularidade, mas também o génio do seu criador, o interesse do bem como testemunho simbólico ou religioso, ou ainda o valor estético, técnico ou material da obra.
Significativos são ainda os bens provenientes de doações ou legados, destacando-se o de Alberto Eduardo Navarro (1891-1972), Visconde da Trindade e de Ana Maria Pereira da Gama (1923-2008).

O piso inferior do museu dispõe de áreas destinadas a exposições temporárias, livraria, loja, cafetaria, biblioteca de arte e arquivo histórico, contribuindo assim para a diversidade de oferta expositiva e formativa ao visitante.

Museu Grão Vasco | Serviço Educativo

Em 1960 foi criado o Serviço Educativo do Museu Grão Vasco. Nas palavras do então director, Fernando Russell Cortez, este serviço permitia “… incrementar a função educativa do Museu, acompanhando a evolução de uma nova sociedade, (…) contribuindo de forma destacada para a verdadeira e real democratização do saber, mostrando, sem possibilidades de contestação, a polivalência dos Museus (…) e o largo papel a desempenhar na valorização da grei.” O Museu Grão Vasco tornava-se assim num dos primeiros, a nível nacional, a pôr em prática um serviço de extensão educativa, concretizando o desejo de fazer do Museu uma instituição mais dinâmica.

Na década de 70 o Serviço Educativo desenvolveu um programa pedagógico e artístico que marcou profundamente a sociedade visiense, através de actividades de ocupação de tempos livres e dos saraus educativos que ocorriam no auditório Gulbenkian instalado na Casa-Museu Almeida Moreira, nessa altura um anexo do Museu Grão Vasco.
Hoje, o Serviço Educativo do Museu Grão Vasco orgulha-se de ser herdeiro deste espírito pioneiro, acumulando a experiência e o saber de todos aqueles que aqui realizaram, ao longo de anos, inúmeras visitas guiadas e actividades que promovem o conhecimento adquirido por prática, observação e experimentação. Hoje, como ontem, o Serviço Educativo do Museu Grão Vasco possibilita uma compreensão acessível das obras expostas e incentiva o enriquecimento pessoal, desenvolvendo competências e despertando emoções, através de múltiplas e diversificadas experiências.

MUSEU GRÃO VASCO | Arquivo Histórico

O Museu Grão Vasco possui no seu acervo, para além de importantes colecções artísticas no domínio da pintura, escultura, cerâmica, etc, um significativo espólio documental que constitui o Arquivo do Museu Grão Vasco. Reúnem-se neste arquivo cerca de 1300 documentos, 17 livros manuscritos e 4 selos avulsos, abarcando uma cronologia que se estende dos séculos XIII ao XX, na sua maioria provenientes do cartório do cabido da Sé de Viseu, à excepção da documentação posterior à República, relativa ao período de instituição do museu e de criação das suas colecções.

Este acervo está organizado pelos seguintes fundos arquivísticos:

– Pergaminhos: 1230 – 1840 (90 docs.)
– Documentos Avulsos: 1431 – [séc. XX] (cerca de 1200 docs.)
– Livros: 1361 – 1844 (17 liv.)
– Fragmentos: [séc. XIII] – 1608 (2 docs.)
– Selos Avulsos: [séc. XIII – XV] (4 ex.)

Não sendo a colecção predominante deste museu, este espólio é, todavia, um precioso testemunho da história da Sé e da cidade de Viseu e um importante instrumento para a fixação da identidade colectiva à escala local, nacional e internacional.
A constituição deste fundo documental liga-se, desde logo, à criação do Museu Grão Vasco quando, em 1916, ficavam à salvaguarda do museu os quadros e a escultura da catedral, o tesouro e o não menos importante fundo documental dos cartórios da Sé e do cabido, deixando-se ainda em aberto a possibilidade de incorporar outras peças de relevante valor artístico ou histórico.

Em Janeiro de 1932 cria-se o Arquivo Distrital de Viseu, instalado no adro da Sé, na torre de menagem medieval até aí ocupada pela cadeia civil, com a finalidade de albergar, para além dos documentos dos cartórios paroquiais, notariais, judiciais e dos extintos mosteiros e congregações religiosas do distrito, os códices, pergaminhos e papéis avulsos provenientes dos cartórios da Sé e do cabido de Viseu, que até então se mantinham à guarda do Museu Regional de Grão Vasco. No entanto, já em 1919, este corpus documental tinha sido sujeito a uma escolha criteriosa que lhe apartava a documentação relacionada com as obras seiscentistas e setecentistas da Sé, tendo sido então entregue ao primeiro director do Museu Grão Vasco. É esta selecção de documentos que permaneceu no Museu Grão Vasco, nunca chegando a integrar o Arquivo Distrital de Viseu, que hoje constitui a maioria do acervo do Arquivo do Museu Grão Vasco.

Em 2007 editou-se o catálogo do AMGV, que permite o acesso virtual a cada documento, acompanhado da respectiva descrição arquivística, a datação (cronológica e tópica) e o sumário (sucinto mas o mais completo possível), seguido de diversos elementos informativos.
Tão significativo como as demais colecções museológicas que integram o Museu Grão Vasco, e o posicionam como de referência nacional, o Arquivo do Museu Grão Vasco merece especial destaque e afirma-se como indispensável para todos aqueles que querem saber mais sobre a história da Sé e da cidade de
Viseu.

MUSEU GRÃO VASCO | Centenário

Prestes a atingir os cem anos de existência e detentor de um acervo de referência, o Museu Grão Vasco foi recentemente classificado formal e oficialmente como “Museu Nacional”, por ser, de facto, uma referência nacional incontornável e por ser assim que todos o vêm, interpretam e consideram.

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