Design de Objectos

Design de Objectos

COMPARTILHE

Um Saca-rolhas do País do Sol Nascente Por Lopo de Castilho

É indiscutível o peso que o Japão, especialmente a partir da segunda metade do século XX, tem tido em termos de produção industrial. Consequentemente, em matéria de Desenho de producto, ou se preferirem, em termos de Design, tem marcado de forma indelével, o nosso quotidiano.
Basta olharmos à nossa volta para constatarmos quanto a cultura material que nos rodeia, está repleta dos mais variados objectos provenientes do arquipélago nipónico. Sejam eles electrodomésticos, computadores, máquinas fotográficas, automóveis, ou outros objectos, eles estão um pouco por todo o lado.
Todavia, quando se trata de objectos Vínicos, mais concretamente de saca-rolhas, serão certamente poucos os leitores que pensarão no Japão…
Com efeito, quando se pensa na culinária deste país e nas suas bebidas, é normal pensar-se em chá, e em saquê, mas muito poucos pensarão em vinho, e menos ainda em Saca-rolhas…
E todavia foi a Portugal coube a honra da introdução do Vinho no Japão!Sim, para além do Reino de Portugal ter sido a primeira nação europeia a estabelecer relações, com esse distante País do Oriente, em meados do século XVI, foi também com as nossas Naus, que o vinho chegou, ao Japão; Vinho de Portugal!

Nessa época o vinho era transportado em tonéis, que iam de Portugal e era frequente ser oferecido como presente aos senhores feudais japoneses que muito o apreciavam. Entre eles, Vinho Moscatel, pois sendo um vinho fortificado, isto é ao qual foi adicionada aguardente, estava mais apto a resistir a essa  interminável viagem, sem se adulterar pelo caminho.

Viviam-se então tempos conturbados no Japão, que tentava passar de uma nação feudal fragmentada, para um reino com um poder centralizado. Essas lutas internas, aliadas a fortes intransigências religiosas locais, que temiam a influência crescente do Cristianismo, difundido pelos nossos missionários, foram gradualmente dificultando o comércio com o Japão. E assim, pouco mais de cinquenta anos passados do desembarque de São Francisco Xavier no Japão, em 1549, o catolicismo que aí conhecera uma rápida e intensa propagação, encontrava- se sobe crescentes ameaças. E as nossas Naus foram tendo que reduzir as suas idas a essas paragens.
A título de curiosidade, mencionamos ainda que 1º vinho a ser produzido no Japão, devido às dificuldades crescentes no comércio entre este País e resto do mundo, terá sido feito por missionários lusos, em 1610, por ordem do bispo português D. Luís de Cerqueira. Poucas décadas depois, o Japão fecharia os seus portos ao mundo, isolando-se dele, por mais de dois séculos! Estes, só se voltariam a abrir, por pressão militar americana, em 1853.
Desde então o Japão procurou recuperar rapidamente o seu atraso tecnológico, face às nações ocidentais, industrializando-se maciçamente.
Em simultâneo, renasceu também o interesse pelo vinho e pela sua cultura. Contudo, devido às dificuldades que o cultivo da vinha apresenta neste país, por as suas condições climatéricas serem pouco favoráveis à viticultura, a produção de vinho deste país é até hoje relativamente residual.
Mas regressemos à indústria, e ao Desenho Industrial. Com a abertura do Japão ao mundo, neste país procurou-se copiar um pouco do que melhor se fazia nos países mais desenvolvidos.
Assim, entre 1885 e 1890, estabeleceu-se um sistema de patentes industriais; neste, a primeira referência ao registo de uma patente para um saca-rolhas data de 1901.

Todavia, durante a 1ª metade do século XX, a indústria japonesa procurou, mais do que a originalidade, copiar modelos ocidentais, os quais se limitava, quando muito, a aperfeiçoar ligeiramente.
Mas no pós segunda grande guerra mundial, depois uma terrível derrota militar, o Japão ambicionava renascer. E para tal, sabia que só podia contar com a extraordinária capacidade dos seus artífices e industriais. Mas, se queriam valorizar a sua produção industrial, era fundamental que esta não se limitasse a imitar o que se fazia no ocidente. Por isso, procuraram desenvolver e valorizar a criatividade e o Design de excelência.

Assim, em 1957, o ministério da Industria e do comércio externo Japonês, lançou um prémio de Design, como objectivo principal ajudar na reconstrução da indústria japonesa do pós-guerra, através do incentivo à criação de produtos mais competitivos. É esta a origem dos “Good Design Award” – em Japonês – actualmente um dos prémios de Design de maior reputação mundial.
Para ter uma ideia da sua importância, basta mencionar que, anualmente, mais 1000 empresas e designers submetem candidaturas a este prémio!
Mitsunobu Hagino, arquitecto, designer e empresário, autor do saca-rolhas de que vamos falar, já foi por diversas vezes nomeado para este prestigioso prémio. E a colecção de acessórios de cozinha de que o mesmo faz parte, FD STYLE – Kitchen gadgets-, também recebeu essa distinção em 2009 (prémio nº 09B03026).
Nascido em 1965, em Kurosaki-machi, Niigata, Hagino sente uma profunda ligação com a sua região de origem, onde existe uma tradição de indústria metalomecânica de excelência.
Com o objectivo de valorizar o trabalho de toda essa indústria, de média e pequena dimensão, e o saber dos seus operários, criou em 1999 a empresa FD STYLE. Tal como o Design que concebe, a sua visão empresarial visa uma produção sustentável, assente na excelência e na preservação de saberes ancestrais. Por isso este seu projecto assenta numa estreita colaboração com pequenas e médias empresas locais; Estas tornam-se assim menos dependente de subcontratos de fornecimento, para os grandes grupos industriais.
Esta proximidade permite ao Designer uma supervisão e diálogo constante com as pequenas e médias empresas que produzem os fantásticos utensílios de cozinha da FD STYLE. A qualquer momento, numa base diária, não só visita as fábricas e oficinas onde estes são produzidos, mas também os próprios fornecedores de metal.
Desta forma pretende, não só que se preservem saberes ancestrais do trabalho dos metais, mas também que os objectos que concebe e desenha, venham a ter uma vida útil bastante longa.
O seu objectivo é conceber objectos de tal modo intemporais que, daqui a 20 ou 30 anos, ainda continuem a ser fabricados.
A julgar pelo Saca-rolhas, objecto que mais directamente nos diz respeito, não duvidados que tal venha a suceder! Este excepcional saca-rolhas, nascido em 2008, pauta-se efectivamente por uma primorosa qualidade de fabrico.
O Saca-rolhas OWL – é este o nome da peça- , tal como as demais “ferramentas” desta serie de objectos de cozinha, todos em aço inoxidável, são ainda revestidos por uma tinta époxica mate. Esta, para além de lhe conferir uma protecção extra contra a ferrugem, facilita a sua limpeza, bem como, confere a este utensilio um maior conforto de utilização. Sem dúvida alguma estamos perante um Design com um certo estilo japonês;
O saca-rolhas não se aparenta a uma espada de Samurai, mas ainda assim tem um vincado estilo masculino, elegante e discreto;
Discreto, quando fechado, pois uma vez aberto, tal como se abre uma navalha “borboleta”, revela-se uma espiral, tão original, como todo o conjunto; a partir desse momento, nenhum enófilo lhe ficará indiferente.
Esta singular espiral, apresenta um original espigão central, que visa facilitar o centrar da espiral, quando se perfura a rolha.
Mas, antes disso, entreabrindo apenas ligeiramente o cabo, este tem em cada metade do mesmo, uma meia circunferência, que lhe permite cortar qualquer cápsula, que proteja o gargalo da garrafa que se pretende abrir… Vê-se que é uma peça pensada em todos os seus detalhes.
Quanto a extrair rolhas, as duas pernas de apoio de que este saca-rolhas dispõe, que só se revelam quando abrimos o saca-rolhas, permitem extrair qualquer rolha sem dificuldades de maior.
Pela nossa experiência com este saca-rolhas, estamos em crer que a aspiração desta empresa nipónica e do seu Designer, de criar objectos em que os seus clientes possam confiar sempre, longe de ser uma panaceia, é uma realidade.

Design de Objectos
“Desenvolvimento de um Projecto:
1º passo – Conceito ;
2ºpasso – Variantes;
3º passo – Aperfeiçoamento ;
4º passo – Produção em massa”

Antes de terminar este artigo, não poderíamos deixar de agradecer a amabilidade do Sr. Hagino, que enviou, desde o Japão, não só um exemplar deste fantástico saca-rolhas, mas também protótipos e desenhos do mesmo. Sem dúvida alguma um espólio único a enriquecer ainda mais o Museu do Saca-rolhas!

geral@museudosacarolhas.com
www.musedosacarolhas.com
www.facebook.com/museu.dosacarolhas
www.facebook.com/sacarolhas.mor
pt.pinterest.com/MuseuSacaRolhas

COMPARTILHE